terça-feira, 31 de outubro de 2017

Consciência e criticidade: sujeitos e educação

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Paulo Freire discorre sobre como entende o ser humano e a sua história. Ou seja, a natureza humana constituindo-se social e historicamente. Natureza esta, com uma trajetória marcada pela finitude, pela inconclusão.
Neste sentido, a consciência do inacabável acaba por tornar o ser humano em educável. Existe assim uma necessidade de existência relacional, uma existência de contatos, de vida.
Freire destaca a importância da relação dialógica como prática fundamental à natureza humana e opção democrática. Não há comunicação sem que haja dialogicidade. Esta relação dialógica, aponta o autor, é fundamental para o conhecimento; para que ela exista, é necessário que haja curiosidade, inquietação e respeito mútuo entre os sujeitos. Entende a curiosidade como uma abertura à compreensão, ao desafio.
Para que seja possível a rigorosidade metódica, que é a passagem do senso comum para o conhecimento científico, o autor aponta a necessidade de haver uma distância epistemológica, tomando em mãos o objeto a ser conhecido para poder conhecê-lo. É necessária, assim, a disposição do ser humano para espantar-se diante das pessoas; de explicar, buscar a razão dos fatores, sermos “seres de pergunta”. A indagação é uma atividade gnosiológica que possibilita ao sujeito conhecer.
Amplia suas reflexões apontando a tecnologia como facilitadora deste processo, pois possibilita encurtar o espaço e tempo. Alerta também a necessidade de transformar o espaço escolar num espaço aberto ao exercício da curiosidade epistemológica, exercício do qual deveriam se preocupar os projetos educativos.
Faz críticas à educação bancária, à memorização, aos exercícios repetitivos. Esta prática implica numa visão tecnicista da educação, onde todos são tratados de forma homogênea, visando a um treinamento instrumental em busca de uma sabedoria de resultados. Quem se preocupa disso são os regimes autoritários a quem define como inimigos da democracia.
Atenta para a importância do docente no processo de tornar a educação mais progressista. Para que isso acontece, lista a necessidade de que haja a valorização da carreira, melhor remuneração e necessidades dos docentes refletirem da e sobre a sua prática.
Segundo o autor, o educador progressista desafia a curiosidade ingênua dos estudantes, visando desenvolver a criticidade, desocultando “verdades escondidas”.
Termina alertando a preocupação que possui sobre o aumento da distância entre a prática educativa e o exercício da curiosidade epistemológica.
Hoje vivemos um cerceamento da liberdade de expressão. O movimento direitista tem se disseminado pelo mundo, inclusive no Brasil, criando um estado policialesco. A escola acaba sofrendo diretamente, já que movimentos visam interferir no seu funcionamento e limitar a formação de educandos críticos e reflexivos. Há a necessidade de nos transformarmos constantemente e lutarmos para que o espaço escolar vá além do ensino tradicional, continuando a ser um espaço de reflexão e formação.

REFERÊNCIA
FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Ed. Olho D’Água, 2000, p.74-83.

domingo, 29 de outubro de 2017

Deficiência e diferenças: reflexões

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A diversidade humana sempre existiu e a História mostra os percalços nas relações. O desconhecimento do outro sempre foi um forte traço ao longo da história. Nem sempre as pessoas estão dispostas a conhecer aquilo que não é seu espelho.
Nós, humanos, somos muito resistentes a mudanças, a mudar de posição. Discrimina-se parecendo que não está se discriminando. Ainda, temos o hábito de estabelecer escalas de valores para as pessoas.
Ora, a homogeneidade não existe. Esta diferença nem sempre é valorizada. Insistimos que as pessoas merecem rótulos, o que acabam as inferiorizando. Maior afirma que se existem políticas afirmativas é porque existe a discriminação.
Os seres humanos têm o potencial de se reinventar.
Em seu texto, Izabel Maior apresenta a evolução do conceito de deficiência, trazendo como explicativo para os leitores as principais definições normatizadas pelo Decreto nº 5296/2004. Segundo ela, a legislação existe para a promoção e proteção dos direitos das pessoas em maior situação de exclusão em nossa sociedade.
Afirma que “As pessoas com deficiência são sujeitos de direitos, com autonomia e independência para fazer suas escolhas, contando com apoios sociais”. Segundo a autora, não deve haver uma proteção exagerada para estes grupos em função de se perder o sentido das políticas de ação afirmativas, que justamente têm por objetivo a diminuição das desvantagens das pessoas com deficiência.
Aponta que a deficiência é um conceito em evolução, de caráter multidimensional, e alerta que o envolvimento de uma pessoa com deficiência na comunidade vai depender de como esta assume e se compromete no processo de inclusão.
Maior conclui enfatizando que “saber lidar com as pessoas com deficiência em quaisquer situações é derrubar barreiras e trabalhar a favor da inclusão”.
Nós docentes temos de repensar nossa prática pedagógica, visando atender as especificidades e necessidades de todos os alunos. Pensando-os no contexto da heterogeneidade, que enriquece o ambiente escolar.

Fontes
MAIOR, Izabel. História, conceitos e tipos de deficiência.
Programa Café Filosófico. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?time_continue=496&v=29JooQEOCvA>. Acesso em: out 2017.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Um olhar sobre minha escola: leituras do coletivo

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A escola onde atuo oferece Ensino Fundamental completo; trata-se de uma escola polo, de um pequeno município, a única que oferece esta etapa da Educação Básica da rede municipal. Recebe alunos oriundos de todos os bairros e localidades do Município.
Para que isso ocorresse, foi necessário o fechamento das outras três escolas que haviam no Município, processo ocorrido devido à diminuição de número de matrículas e famílias nestas comunidades. Arroyo afirma no seu texto que [...] Não ter escola ou fechá-la e levar os filhos para outro lugar é sacrificar sua existência como comunidade humana, mais um mecanismo de tornar a comunidade inexistente, invisível.
As escolas que foram fechadas localizavam-se no campo sendo que os alunos foram levados para a escola “da cidade’. Ora, Noé já alertava que o processo educacional emerge  através da família, igreja, escola e comunidade. Desta forma, a escola passa a fazer parte da identidade local, refletindo os sujeitos, seus tempos e espaços. Neste sentido, Arroyo defende que as Escolas devam ter as marcas de suas culturas e identidades, com educadores professores arraigados nas comunidades. Neste sentido, o que observamos com o nucleamento dos alunos, é a destruição das formas ancestrais de viver, de produção da vida humana, das identidades e dos saberes, como o autor aponta em seu texto.
Desta forma, a realidade da educação municipal e da própria escola onde atuo sofreu profundas transformações, principalmente na última década. Sendo a escola como uma construção da modernidade, afirmam Missio e Cunha, percebemos que diferentes sujeitos, de tempos, espaços e realidades distintas passaram a conviver e interagir no espaço escolar. Ao passo que a escola mantém seu preceitos e estruturas muito semelhantes à época da sua constituição, embora os sujeitos e tempos sejam outros. Isto acaba por influenciar e interferir nas relações que se dão dentro e fora dela, incluindo no próprio cerne da comunidade.
Percebo que mesmo muitas mudanças terem acontecido, há a predominância ainda de aspectos que são fortemente marcados por poder, onde as práticas tradicionais ainda emperram uma efetiva gestão democrática e muitas vezes acabam por interferir na transformação do espaço escolar num local dinâmico. Há uma massificação, onde o todo que forma este espaço, mesmo que de origem distintas, são tratados como iguais, no sentido de homogeneizar as práticas, sem considerar suas origens e culturas. Arroyo chama isso de “pedagogias” destruidoras, sacrificiais dos saberes e identidades porque destruidoras de suas formas de produção do viver-ser, da terra, do território, do espaço de onde provém e vivem cada um desses atores, impondo um modelo único de cultura.
Como contraposição, resta o desafio apontado por Arroyo quando afirma que vincular ações coletivas, conhecimento e pedagogias supõe o reconhecimento das experiências e ações desses coletivos organizados ou não em movimentos sociais, bem como de seus contextos, espaços e tempos.
Outro olhar sobre esta realidade, diz respeito ao processo de construção de conhecimento, também emperrado pela homogeneização da forma de ensinar e de aprender, onde todos são ensinadas e devem aprender no mesmo tempo e à mesma velocidade. Candau alerta que o que deve ser mudado não é a cultura do aluno, mas sim a da escola, transformando-a num espaço de múltiplas aprendizagens e trocas, respeitando a autonomia e identidade dos sujeitos que ali interagem.

Referências
ARROYO, Miguel G. Ações coletivas e conhecimento: outras pedagogias?
CANDAU, Vera Maria Ferrão. Sociedade, cotidiano escolar e cultura(s): uma aproximação.
MISSIO, Luciani; Cunha, Jorge Luiz da. Um olhar sobre a educação moderna no século XXI.

NOÉ, Alberto. A relação Educação e Sociedade: os fatores sociais que intervém no processo educativo.

domingo, 22 de outubro de 2017

O desenvolvimento cognitivo na teoria de Piaget

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Piaget construiu uma teoria do desenvolvimento que prioriza a inteligência como forma de adaptação ao mundo e organização da atividade mental. Segundo esta teoria, o sujeito constrói conhecimento a partir de interações com objetos físicos e sociais.
A busca do equilíbrio e integração das construções anteriores são os dois princípios que norteiam a teoria do autor.
O desenvolvimento é entendido como equilibração progressiva, passagem contínua de um estado de menor para maior equilíbrio. Ou seja, o desenvolvimento mental é uma construção contínua que tem por finalidade transformar a representação das coisas.
Piaget defende que ao longo do desenvolvimento o sujeito passa por estágios diferentes, entendidos como ordem das sucessões de aquisição de forma constante. Estes estágios são caracterizados por uma estrutura de conjunto e de caráter integrativo, ou seja, as estruturas construídas numa idade se tornam parte integrante das estruturas da idade seguinte.
Cada estágio comporta um nível de preparação e de acabamento. O desenvolvimento psíquico começa quando nascemos até a idade adulta, quando atingimos o que ele chamou de equilíbrio final. Em todos os níveis, a inteligência procura compreender, explicar etc.
Os estágios sãp caracterizados pela aparição de estruturas originais, cuja construção o distingue dos estágios anteriores. Cada estágio constitui uma estrutura particular de equilíbrio, efetuando-se a evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa.
Existem, segundo Piaget, mecanismos funcionais comuns a todos os estágios: toda ação (movimento, pensamento, sentimento) corresponde a uma necessidade. Daí decorre que uma necessidade é sempre a manifestação de um desequilíbrio. A ação humana consiste em movimento contínuo e perpétuo de reajustamento ou reequilibração.
Neste sentido, a adaptação é entendida como  equilíbrio das assimilações e acomodações.
Segundo o autor, o período que vai 0 a 2 anos é vital para o desenvolvimento da inteligência, já que as construções aí realizadas são a base para o desenvolvimento posterior (capacidades biológicas e construções psicológicas iniciais). Ainda, do nascimento até a aquisição da linguagem, ocorre um extraordinário desenvolvimento mental considerado pelo autor decisivo para todo curso da evolução psíquica. Trata-se de um período da conquista, através da percepção e dos movimentos, de todo universo que cerca a criança.
A inteligência aparece bem antes da linguagem. Porém, esta inteligência é totalmente prática: utiliza percepções e movimentos organizados em esquemas de ação. A consciência, no sujeito,  começa com um egocentrismo inconsciente e integral até os progressos da inteligência.
Já na primeira infância, que vai dos dois aos sete anos, ocorre o surgimento da linguagem que é a representação verbal. Outras ações que ocorrem nesta fase tratam das trocas entre os sujeitos (socialização), interiorização da palavra (pensamento) e a interiorização da ação. Há o desenvolvimento de sentimentos interindividuais e do mundo social e das representações interiores (a partir do surgimento da linguagem). Neste sentido, a linguagem é um veículo de conceitos e noções que pertence a todos e reforça o pensamento individual com um vasto sistema de pensamento coletivo.

A segunda infância, que vai dos sete aos doze anos, aponta Piaget, trata-se de uma modificação decisiva ao desenvolvimento mental. Coincide com a etapa da escolarização, onde a criança aprende novas formas de organização, tornando-se capaz de cooperar e onde se percebem notáveis mudanças nas suas atitudes sociais, tornando-a suscetível a um começo de reflexão. A prática da cooperação entre as crianças e do respeito mútuo que desenvolve o s sentimentos de justiça.
A reflexão é uma conduta social de discussão interiorizada, onde a criança começa a se libertar de seu egocentrismo social e intelectual. As operações do pensamento correspondem à intuição: forma superior de equilíbrio que o pensamento atinge na primeira infância. Ou seja, as instituições se transformam em operações.
Nesta fase, também, ocorre o desenvolvimento da seriação e a seriação análoga de pesos (a partir dos 9 anos).
Após esta fase, tem início a adolescência. Segundo Piaget, o adolescente é um individuo que constrói sistemas e teorias. Trata-se de uma nova forma de pensamento com ideias gerais e construções abstratas. Nesta fase da vida, há facilidade em elaborar teorias abstratas.
A partir dos 11/12 anos, ocorre a passagem do pensamento concreto para o formal, que se constitui no que Piaget chama de modificação decisiva. Forma-se o pensamento hipotético-dedutivo capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não somente através de uma observação real. Esta forma de pensamento envolve dificuldade e um trabalho mental maiores. Esta livre-atividade da reflexão espontânea opõe a adolescência à infância. O equilíbrio é atingido quando a reflexão compreende que sua função é se adiantar a interpretar a experiência.
O adolescente coloca-se em igualdade com os mais velhos, sentindo-se outro, diferente deles, pela vida nova que o agita. Quer ultrapassá-los e espantá-los, transformando o mundo. Com o passar do tempo, adapta-se à realidade quando de reformador, transformando-se em realizador. Em suma: a experiência reconcilia o pensamento formal com a realidade das coisas.
É importante ao docente conhecer como se dá o desenvolvimento cognitivo dos alunos, o que contribui para que planeje seu fazer pedagógico de modo a fornecer experiências que sejam importantes para os mesmos, promovendo uma prática onde a interação instigue a ação. Escolas com práticas que favorecem a ação dos educandos são ambiente facilitador para a construção do conhecimento e desenvolvimento.

Referências
PIAGET, Jean. Os estágios de desenvolvimento cognitivo e da criança.
__________. Seis estudos de Psicologia.

SOUZA, MARIA THEREZA COSTA COELHO DE. A construção cognitiva de si mesmo.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Refletindo sobre a escola e a construção do conhecimento



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A questão de entender a construção do conhecimento e o desafio para que o docente domine este assunto e tenha uma prática que vise transformar a escola num espaço de interação, curiosidade, aprendizagem, desafiante para os alunos, é mote de qualquer formação profissional de professores.
O grande desafio, como aponta Fernando Becker, é que a escola precisa transformar-se cada vez mais em laboratório e cada vez menos em auditório. Ainda temos como práticas predominantes a transmissão do conhecimento, numa escola fundada no século passado, que ainda se encontra presa à sua época de criação. Esta constatação fica clara quando o professor Becker afirma que continuamos copiando e repetindo na escola.
Tanto Becker quando La Taille trazem os estudos de Piaget e a Psicologia do Desenvolvimento para tratar sobre a importância de compreender como se dá a construção do conhecimento e o desenvolvimento dos educandos, a interferência do tempo de vida, nos processos da criança (conhecimento, socialização, progresso, adquirir competências, e como vão se transformar ao longo da vida).
Marques também destaca a importância da teoria de Piaget e dá importância que ela dá para entender como surge o conhecimento humano.
Os autores acima utilizam a teoria de Piaget e da Epistemologia Genética como forma de compreender como se dá a origem e desenvolvimento do conhecimento. Trazem em suas falas e textos a menção aos estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Piaget em sua teoria. Tratam-se de fases do desenvolvimento das funções cognitivas da inteligência, do pensamento. O desenvolvimento se dá por etapas, sendo que há superação de fases anteriores, podendo acontecer de certos estágios não serem alcançados. Não significa que todas as pessoas passem por todos os períodos; para sabermos em que período se encontra, é necessário saber como a pessoa pensa.
Somados aos autores acima, Lino de Macedo traz importante contribuições acerca do construtivismo, segundo o qual o conhecimento só tem sentido enquanto uma teoria da ação, da ação que produz este conhecimento. Segundo o autor, para se pensar numa escola construtivista, é fundamental abarcar vários aspectos, que passam pela postura do professor, dos materiais do ensino, da disciplina na sala de aula e do processo de avaliação escolar.
[...] O grande desafio do educador, amparado pelas contribuições teóricas da Epistemologia Genética, é formular perguntas capazes de gerar as perturbações necessárias para provocar o interesse do aluno. (MARQUES, 2008)

Referências
BECKER, Fernando. Escola mais laboratório e menos auditório. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=xjfKBGIHPjs>. Acesso em: out. 2017.
Introdução à Psicologia do Desenvolvimento. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=7GEV7HOsETM>. Acesso em: out. 2017.
MACEDO, Lino de. O construtivismo e sua função educacional.
MARQUES, Tania Beatriz Iwaszko. Epistemologia Genética. In: SARMENTO, Dirléia Fanfa; RAPOPORT, Andrea e FOSSATTI, Paulo (orgs). Psicologia e educação: perspectivas teóricas e implicações educacionais. Canoas: Salles, 2008. p.17-26

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Breves considerações sobre o laudo escolar, inclusão e desafios

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Na minha opinião a Nota Técnica é um mecanismo burocrático que visa orientar e normatizar acerca do AEE e do público-alvo da educação especial, visando um levantamento censitário, para fins de instrumentar as escolas com os recursos necessários para atendimento dos alunos deste público-alvo da educação especial.Não significa minha discordância acerca de suas normatizações.
Mas é um desafio que ainda persiste na realidade de nossas escolas. Grande parte ainda não possui a sala de recursos multifuncionais, ou carece de profissionais com formação para atuar nestes espaços e de forma articulada com os docentes, haja visto que os alunos com deficiência devam frequentar a classe regular.
Desafio primeiro, para os professores, Porque como a norma técnica estabelece é preciso haver um plano de atendimento a estes alunos. Conhecer suas especificidades e de que forma será conduzido o processo de construção do conhecimento, respeitando suas limitações, considerando seu tempo e espaço.
Segundo, a carência de apoio de profissionais com a devida formação que auxiliem e trabalhem de forma articulada as docentes das classes regulares, para que haja uma efetiva inclusão em sala de aula.
Terceiro, infraestrutura adequada para acolher e proporcionar a todos os alunos a escola como um espaço de desenvolvimento, interação e aprendizagens.
Há necessidade de uma rede de trabalho articulado, para que todos os alunos aprendam.

Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Nota técnica nº 04/2014/MEC/SECADI/DPEE.

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Um olhar sobre as práticas da escola e a influência da cultura

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A cultura influencia diretamente a escola, não necessariamente de forma positiva. Existem lacunas e visões que emperram seu desenvolvimento. Lembro-me de uma situação cultural ocorrida. Certa escola, num município do interior, fortemente marcada pela cultura alemã, recebeu uma professora negra contratada para ser docente das disciplinas de História e Geografia. Até então, não havia nenhum docente negro que atuava na rede. Houve grande surpresa e “preocupação” por parte da equipe diretiva e de alguns professores sobre como seria o “impacto” e “aceitação” por parte dos alunos. Ora, como deveria ser. Foi muito bem recebida por todos os alunos, logo estava bem adaptada à escola e todos gostavam muito dela, além de ser uma boa professora era muito afetuosa, cativou rapidamente a todos.
Esta situação deixa bem clara ainda a presença de aspectos culturais que ainda tornam-se barreiras, inclusive nas próprias escolas, espaço de socialização e aprendizagem. O “choque”, se assim podemos designar, ao receber a professora, não foi dos alunos. E sim da equipe diretiva e parte dos professores que lá atuava uma vez que estamos acostumados ao perfil docente branco. Missio e Cunha apontam aspectos muito relevantes que servem para pensarmos: a escola ainda impõe um modelo único de cultura, aspecto fundado no fato de que ainda mantém preceitos e estrutura da época de sua constituição. Alinhando com os vídeos, que pese que se defenda que a sociedade não discrimina, classifica e que não haveria mais o preconceito racial, vemos que na verdade ainda é um forte discurso difundido na sociedade, que não releva as questões escondidas no pensamento e muitas vezes nas ações praticadas. Há fortemente a presença das diferenças, que ainda têm dificuldades em serem transpostas, motivadas pela nossa constituição, história e presença da herança cultural europeia.
Sem falar no fato de que vivemos um período obscuro no país, com a volta da diferenciação entre as pessoas, preconceitos, visões de um passado que achávamos superado. O fato ocorrido e relatado acima mostra que a geração dos alunos tem mais facilidade em aceitar o diferente, em respeitar a todos como são, do que nossa geração ou a geração que veio antes deles. Ainda estão arraigados aspectos de um período em que certos valores e culturas predominavam sobre outros.
Resta-nos o desafio de transformar esta escola que ainda mantém-se presa ao passado. Começando por nós mesmos docentes, nossas ações, lembrando-se que ela é um espaço em movimento, de interação, onde diferentes sujeitos tornam sem espaço rico e plural.

Referências

MISSIO, Luciani; CUNHA, Jorge Luiz da. Um olhar sobre a educação moderna no século XXI.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Desafios da inclusão

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A questão da inclusão das pessoas com deficiência passou a incluir a pauta das políticas educacionais e das ações governamentais principalmente na última década. Temos assistido a um processo lento, que avança paulatinamente, superando novos desafios que se colocam no caminho, a cada dia. A existência de políticas que garantem a matrícula preferencialmente em classes regulares e o apoio de profissionais, bem como a formação continuada docente visando o atendimento a todos os alunos, de acordo com suas particularidades e seu tempo e espaço, mostrou-se muito avançada.
Porém, enquanto docentes, no cotidiano de nossas escolas, muitas vezes nossos discursos contrastam com nossas práticas. É comum percebermos que em classes com alunos com deficiência incluídos, há uma visão de que ele aprenderá o mínimo possível perante suas “limitações”. Ora, embora pareça incoerente e inaceitável nos dias atuais, é freqüente esta prática e pensamento no cerne das instituições escolares.
Lembro-me, quando aluno, no final da década dos anos 1990, numa escola da rede estadual, no interior do nosso estado, que em toda a escola, que na época tinha mais de 300 alunos, havia um aluno cadeirante naquele ambiente sem nenhuma acessibilidade. Ainda hoje recordo que os colegas de sua turma (na época 6ª série do Ensino Fundamental) já o esperavam no portão da escola e conduziam sua cadeira de rodas pelos seus espaços, que contavam com muitas escadas e degraus; nestes, o aluno cadeirante era carregado no colo por colegas, enquanto outros levavam sua cadeira. Quando ele precisava ir ao banheiro, colegas sempre se colocavam à disposição e o auxiliavam; o mesmo durante o recreio, já que ele não ficava na sala de aula, era conduzido até o pátio. Este contexto mostra que os estudantes têm mais facilidade de interação e aceitação de cada um, respeitando suas particularidades.
Percebemos que alguns docentes muitas vezes sabendo que no ano escolar seguinte receberão um aluno com deficiência, alegando “falta de formação” pedem para serem trocados de turma. Muitas desculpas até são utilizadas para amenizar, afirmando que o colega tem mais experiência e formação, ou até que o aluno não precisa “aprender o mesmo” que os colegas, entre outros.
Estamos acostumados a homogeneizar a um padrão que sequer padrão é. Cada um de nós somos diferentes, temos nossas características, particularidades, necessidades, aprendemos a um tempo e espaço diferentes, somos hábeis em alguma coisa.
Concordo com a visão de Carlos Skliar que afirma que se muito falamos de inclusão é porque ela efetivamente não está ocorrendo e não faz parte do cotidiano de nossas escolas, ainda é um desafio. Escola, segundo o autor, é lugar de se encontrar, de hospitalidade: receber o outro e oferecer tudo o que é possível, criando um pacto de amizade, de amorosidade.
Amaral empresa a expressão diversidade da natureza e da condição humana ao discorrer sobre o assunto. Avançamos muito em termos de inclusão, mas ainda temos muito a construir visando transformar a escola e a sociedade num espaço de convívio de e para todos, abandonando modelos predeterminados e padrões do que julgamos normalidade, afinal “ser diferente é normal”.


Referências
AMARAL, Ligia Assumpção. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação.
SKLIAR, Carlos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sFU02gs-MWk>. Acesso em: out. 2017.