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A questão
da inclusão das pessoas com deficiência passou a incluir a pauta das políticas
educacionais e das ações governamentais principalmente na última década. Temos assistido
a um processo lento, que avança paulatinamente, superando novos desafios que se
colocam no caminho, a cada dia. A existência de políticas que garantem a
matrícula preferencialmente em classes regulares e o apoio de profissionais,
bem como a formação continuada docente visando o atendimento a todos os alunos,
de acordo com suas particularidades e seu tempo e espaço, mostrou-se muito
avançada.
Porém,
enquanto docentes, no cotidiano de nossas escolas, muitas vezes nossos
discursos contrastam com nossas práticas. É comum percebermos que em classes
com alunos com deficiência incluídos, há uma visão de que ele aprenderá o
mínimo possível perante suas “limitações”. Ora, embora pareça incoerente e
inaceitável nos dias atuais, é freqüente esta prática e pensamento no cerne das
instituições escolares.
Lembro-me,
quando aluno, no final da década dos anos 1990, numa escola da rede estadual,
no interior do nosso estado, que em toda a escola, que na época tinha mais de
300 alunos, havia um aluno cadeirante naquele ambiente sem nenhuma
acessibilidade. Ainda hoje recordo que os colegas de sua turma (na época 6ª
série do Ensino Fundamental) já o esperavam no portão da escola e conduziam sua
cadeira de rodas pelos seus espaços, que contavam com muitas escadas e degraus;
nestes, o aluno cadeirante era carregado no colo por colegas, enquanto outros
levavam sua cadeira. Quando ele precisava ir ao banheiro, colegas sempre se
colocavam à disposição e o auxiliavam; o mesmo durante o recreio, já que ele
não ficava na sala de aula, era conduzido até o pátio. Este contexto mostra que
os estudantes têm mais facilidade de interação e aceitação de cada um,
respeitando suas particularidades.
Percebemos
que alguns docentes muitas vezes sabendo que no ano escolar seguinte receberão
um aluno com deficiência, alegando “falta de formação” pedem para serem
trocados de turma. Muitas desculpas até são utilizadas para amenizar, afirmando
que o colega tem mais experiência e formação, ou até que o aluno não precisa “aprender
o mesmo” que os colegas, entre outros.
Estamos
acostumados a homogeneizar a um padrão que sequer padrão é. Cada um de nós
somos diferentes, temos nossas características, particularidades, necessidades,
aprendemos a um tempo e espaço diferentes, somos hábeis em alguma coisa.
Concordo
com a visão de Carlos Skliar que afirma que se muito falamos de inclusão é
porque ela efetivamente não está ocorrendo e não faz parte do cotidiano de
nossas escolas, ainda é um desafio. Escola, segundo o autor, é lugar de se
encontrar, de hospitalidade: receber o outro e oferecer tudo o que é possível,
criando um pacto de amizade, de amorosidade.
Amaral
empresa a expressão diversidade da natureza e da condição humana ao discorrer
sobre o assunto. Avançamos muito em termos de inclusão, mas ainda temos muito a
construir visando transformar a escola e a sociedade num espaço de convívio de
e para todos, abandonando modelos predeterminados e padrões do que julgamos
normalidade, afinal “ser diferente é normal”.
Referências
AMARAL,
Ligia Assumpção. Sobre crocodilos e
avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos e sua superação.
SKLIAR,
Carlos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=sFU02gs-MWk>.
Acesso em: out. 2017.
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